sábado, 12 de abril de 2008

Letters from Belfast #12

Eileen adora escrever; passa seus dias entre cuidar de seu jardim e dar aulas na escola pública local.
Parece pouco não?...voce não sabe de nada.
Já recebí, desde que a conhecí, quase 395 postagens, contando seus dias(pelo visto maravilhosos) e suas noites, descrevendo o céu da Irlanda e seus mistérios, e o mais belo: a vontade de amar que vai em seu coração.
Eileen tem pouco mais de 32 anos, é morena bem clara e dois olhos negros como a noite deve ser por lá; conhecí-a num evento musical em Belfast, onde ela tocava harpa num grupo folclórico local que me tocou profundamente, e desde então fiquei um fã incondicional da musica irlandesa e das reuniões onde todo mundo dança ou toca algum instrumento e parece que por algum motivo inexplicável, somos felizes eternamente.
Sério, nem me pergunte o significado do que escreví, mas é o jeito mais próximo de passar a sensação.
Dançamos muito naquela noite e a amizade que nasceu foi uma das coisas mais bonitas de minha vida; ao conversarmos, Eileen me contava da dificuldade das pessoas se apaixonarem; procurava um motivo para entender qual o efeito que surgiria se todos resolvessem se apaixonar por qualquer coisa.(NB-o conceito dela em paixão, entendi mais tarde, é num outro nível)
E nós rimos muito de alguns casais que após se beijarem, sem assunto, procuravam uma razão para brigar e logo depois se reconciliarem, e assim sucessivamente, num ritual frenético, ensandecido até...e para nossa surpresa, retornarem a pasmaceira de uma vida a dois completamente patética, cheia de rotinas, joguinhos e sexo.
Eileen havia se apaixonado algumas vezes, como diz, mas verdadeiramente, apenas duas: por um colega de infancia, aos 10 anos e por um estudante de química, já aos 19 anos.
Na primeira, a correria na escola e pelos campos a tardezinha, o sorvete com as tias no parquinho e o almoço aos domingos na casa da avó; essa era a rotina de sua aventura amorosa aos 10 anos e claro, terminou com a mudança do seu pequeno principe para Londres.
O que rendeu várias cartas a seu amado, que pelo jeito, não se dava muito bem com relações a distancia, trocando Eileen por novas amizades em pouco mais de duas semanas...fim da história!
Na segunda, uma paixão fulminante...em meio a fórmulas e tubos de ensaio...a voz que a deixou nas nuvens...um sonho de noites intermináveis embaladas ao som de Simply Red.
2 anos de puro envolvimento com direito a viagens nas férias de verão da universidade para as highlanders numa pequena pousada de sua tia e picnics musicais a tarde nas horas de folga.
Mas...(claro que um "mas") ao fim dos dois anos, um emprego chama seu cavaleiro para terras distantes e pufff...goodbye my love.
Ela não me conta essas coisas com ar nostálgico...atentem aqui...ela gosta de lembrá-los; o que me toca em Eileen é a riqueza em detalhes de seus sentimentos, algo como se ela possuísse o comando de suas lembranças, sem o perigo de tentar vivenciá-las novamente, sem aquela saudade dolorida de amores perdidos.
A verdade, queridos amigos, é que Eileen tem o dom de transformar nossos corações; Eileen sente o que a toca, de maneira intensa e que poucos sabem como fazê-lo.
2 amores apenas...mas a proporção é humilhante para nós, meros mortais que nos apaixonamos quase que todo dia, pois o contato que ela pode ter é restrito: Por ser cega de nascimento, alterou a percepção da realidade e enxergou através de seu fantástico coração.
Em suas cartas, posso sentir cada batida e suas variações atreladas a sua emoção do momento; Nas descrições que faz, me conta daqueles que chegam e partem sem motivo aparente, e daqueles que tentam se fazer presente sem sucesso. E pior: daqueles que apesar de tão próximos, demostram sua ausência sem o menor disfarce.
Coitados!...nem percebem a moça simples que consegue detectar o menor tremor em suas vozes, revelando a ela o que possuem em seu interior.
Eileen, Eileen...voce é o máximo...espero do fundo de meu coração que voce encontre uma nova paixão...de preferencia alguem que chegue sem avisar e toque mais uma vez sua alma, como das duas vezes anteriores.
Voce me ensinou uma coisa imprescindível nos dias de hoje: Acreditar sempre!
E eu te saúdo em nome de todos aqueles que ainda não te conhecem, mas esperam uma noite qualquer dar um pulinho aí em Belfast para dançar e ouvir uma harpa.
Já te falei que adoro "Celtic Woman"?...ok...um grande beijo em seu coração e conte comigo sempre...você é por demais uma preciosa alma que todos nós, os cavaleiros da noite, devíamos proteger com a vida. Deus te guarde sempre...e citando J.Joyce no seu Ulisses: "Pensar que se está escapando e se está correndo para dentro de si mesmo. O caminho mais longo é o caminho mais curto para casa”...
Então até a próxima viagem...

Um comentário:

Unknown disse...

"Figures of cornstalks bend in the shadows
Held up tall as the flames leap high
The green knight holds the holly bush
To mark where the old year passes by"(Loreena McKennitt)...quando é possível,harpas e flautas,mas quando tange a alma e ao universo das sensações,harpas,flautas e um belo cavaleiro para nos tirar prá dançar...Suzi