Eileen adora escrever; passa seus dias entre cuidar de seu jardim e dar aulas na escola pública local. Parece pouco não?...voce não sabe de nada.
Já recebí, desde que a conhecí, quase 395 postagens, contando seus dias(pelo visto maravilhosos) e suas noites, descrevendo o céu da Irlanda e seus mistérios, e o mais belo: a vontade de amar que vai em seu coração.
Eileen tem pouco mais de 32 anos, é morena bem clara e dois olhos negros como a noite deve ser por lá; conhecí-a num evento musical em Belfast, onde ela tocava harpa num grupo folclórico local que me tocou profundamente, e desde então fiquei um fã incondicional da musica irlandesa e das reuniões onde todo mundo dança ou toca algum instrumento e parece que por algum motivo inexplicável, somos felizes eternamente.
Sério, nem me pergunte o significado do que escreví, mas é o jeito mais próximo de passar a sensação.
Dançamos muito naquela noite e a amizade que nasceu foi uma das coisas mais bonitas de minha vida; ao conversarmos, Eileen me contava da dificuldade das pessoas se apaixonarem; procurava um motivo para entender qual o efeito que surgiria se todos resolvessem se apaixonar por qualquer coisa.(NB-o conceito dela em paixão, entendi mais tarde, é num outro nível)
E nós rimos muito de alguns casais que após se beijarem, sem assunto, procuravam uma razão para brigar e logo depois se reconciliarem, e assim sucessivamente, num ritual frenético, ensandecido até...e para nossa surpresa, retornarem a pasmaceira de uma vida a dois completamente patética, cheia de rotinas, joguinhos e sexo.
Eileen havia se apaixonado algumas vezes, como diz, mas verdadeiramente, apenas duas: por um colega de infancia, aos 10 anos e por um estudante de química, já aos 19 anos.
Na primeira, a correria na escola e pelos campos a tardezinha, o sorvete com as tias no parquinho e o almoço aos domingos na casa da avó; essa era a rotina de sua aventura amorosa aos 10 anos e claro, terminou com a mudança do seu pequeno principe para Londres.
O que rendeu várias cartas a seu amado, que pelo jeito, não se dava muito bem com relações a distancia, trocando Eileen por novas amizades em pouco mais de duas semanas...fim da história!
Na segunda, uma paixão fulminante...em meio a fórmulas e tubos de ensaio...a voz que a deixou nas nuvens...um sonho de noites intermináveis embaladas ao som de Simply Red.
2 anos de puro envolvimento com direito a viagens nas férias de verão da universidade para as highlanders numa pequena pousada de sua tia e picnics musicais a tarde nas horas de folga.
Mas...(claro que um "mas") ao fim dos dois anos, um emprego chama seu cavaleiro para terras distantes e pufff...goodbye my love.
Ela não me conta essas coisas com ar nostálgico...atentem aqui...ela gosta de lembrá-los; o que me toca em Eileen é a riqueza em detalhes de seus sentimentos, algo como se ela possuísse o comando de suas lembranças, sem o perigo de tentar vivenciá-las novamente, sem aquela saudade dolorida de amores perdidos.
A verdade, queridos amigos, é que Eileen tem o dom de transformar nossos corações; Eileen sente o que a toca, de maneira intensa e que poucos sabem como fazê-lo.
2 amores apenas...mas a proporção é humilhante para nós, meros mortais que nos apaixonamos quase que todo dia, pois o contato que ela pode ter é restrito: Por ser cega de nascimento, alterou a percepção da realidade e enxergou através de seu fantástico coração.
Em suas cartas, posso sentir cada batida e suas variações atreladas a sua emoção do momento; Nas descrições que faz, me conta daqueles que chegam e partem sem motivo aparente, e daqueles que tentam se fazer presente sem sucesso. E pior: daqueles que apesar de tão próximos, demostram sua ausência sem o menor disfarce.
Coitados!...nem percebem a moça simples que consegue detectar o menor tremor em suas vozes, revelando a ela o que possuem em seu interior.
Eileen, Eileen...voce é o máximo...espero do fundo de meu coração que voce encontre uma nova paixão...de preferencia alguem que chegue sem avisar e toque mais uma vez sua alma, como das duas vezes anteriores.
Voce me ensinou uma coisa imprescindível nos dias de hoje: Acreditar sempre!
E eu te saúdo em nome de todos aqueles que ainda não te conhecem, mas esperam uma noite qualquer dar um pulinho aí em Belfast para dançar e ouvir uma harpa.
Já te falei que adoro "Celtic Woman"?...ok...um grande beijo em seu coração e conte comigo sempre...você é por demais uma preciosa alma que todos nós, os cavaleiros da noite, devíamos proteger com a vida. Deus te guarde sempre...e citando J.Joyce no seu Ulisses: "Pensar que se está escapando e se está correndo para dentro de si mesmo. O caminho mais longo é o caminho mais curto para casa”...
Então até a próxima viagem...
.jpg)

