sábado, 4 de setembro de 2010
Uma tarde em 1981
Cheguei á entrada da fazenda por volta da uma da tarde. Meus amigos vieram no segundo carro,mais tarde, após terem trocado um pneu furado.
Nada demais, pensava eu. Passeio de domingo com amigos são assim, principalmente no campo.
A semana foi chata. Trabalho demais no banco. Gerente pé no saco e uma mulher horrível, caixa por sinal, que cismava comigo, tentando botar defeito nos meus relatórios.
Ainda bem que vim no carro certo!
Me arrumei na casa. Troquei de roupa e fui até o lago. Uma tarde de sol e não ter que ficar falando algo. Pra quem quer que seja.
Sentei-me na beira, olhando sem compromisso o fundo do lago. Não havia peixes, pensei. Pensei em pescar...fiquei frustrado.
Foi no intervalo entre olhar o lago e imaginar uma pescaria que olhei na direção da outra margem: uma garota. Sózinha, dançando na ponta dos pés, fantasiando talvez um espetáculo sem platéia.
Fiquei olhando sem piscar. Ela não se importava comigo. Rodopiava na margem, quase caindo, talvez pensando que caso caísse, teria alguem por perto. Não sei.
Imaginei um inicio de conversa. Desistí. Ela estava única, senhora total do seu espaço. Não havia limites.
Rodando e rodando, ela deixava cada parte de seu corpo sentir o movimento. E por fim, parava. Levantava a cabeça e olhava em minha direção, para em seguida abaixar o olhar como se percebesse que eu a admirava. Eu ficava perdido com minha imaginação. Lindíssima, mesmo sem vê-la de perto. Misturei imagens reais com aquela visão improvável e criava ambientes onde nos falávamos. mesmo sabendo que sua figura não sobreviveria a uma cidade.
Em algum momento daquela tarde, ela parou de dançar. Eu aguardei seu próximo movimento, mas percebí que alguem a chamava.
E ao voltar aos meus pensamentos sobre o lago, percebí que queria dançar. Sózinho ou com alguem, sei lá. Foi nesse momento que meus amigos me chamaram. Era hora de ir. O tempo é relativo nesses momentos. Rápido pra quem os vive, lento pra quem deixa passar.
Bom, nunca mais voltei aquela fazenda. E nem soube quem era a garota. Prefiro pensar que ela ainda dança perto do lago, mas deve ter se formado. Uma bióloga talvez?
E adoro imaginá-la naquela tarde. Não precisei saber seu nome nem tocá-la. Nada de conceitos sociais estabelecidos numa cartilha que nem sei se existe. Apenas a garota, o lago e um sol.
E uma tarde que ficou na memória. Pra sempre. E não tem nada demais em dançar sozinho.
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